REVIEW DE BATMAN ’89

Em maio de 2023 a DC lançou duas minisséries chamadas “Superman ’78”, o qual falaremos brevemente e “Batman ’89”, ambas inspiradas nos universos dos filmes de 1978 e 1989.

Hoje falaremos de “Batman ’89”, que teve o roteiro escrito pelo Sam Hamm que havia sido o co-roteirista do longa lançado em 1989 e argumentista do segundo filme, lançado em 1992, já a arte ficou a cargo de Joe Quiñones.

“Batman ’89” nos leva de volta as aventuras do Cavaleiro das Trevas na versão do Michael Keaton na metrópole gótica que é a cidade de Gotham City, principalmente na visão do diretor Tim Burton. Aqui vemos um Bruce Wayne de Michael Keaton envelhecido, já de cabelos grisalho, tendo que enfrentar o novo vilão lunático de Gotham, o Duas Caras e a Guarda Nacional, que invadiu a cidade depois de um desastroso ataque terrorista causado pela ex-gangue do Coringa, realizada durante o Halloween.

O roteirista Sam Hamm e o desenhista Joe Quiñones

Neste ponto da história, o promotor distrital Harvey Dent, que havia cito interpretado, no primeiro filme, pelo ator Billy Dee Williams, está montando uma campanha para capturar e desmascarar o vigilante conhecido como Batman e expor seus colaboradores. A HQ consegue mergulhar nos bastidores e motivações de uma encarnação do Dent que não teve a chance de chegar às telonas e, ao fazer isso, revela um lado mais complicado do personagem do que os leitores já viram antes.

Hamm escreveu uma história que consegue seguir um caminho lógico para transformar o Harvey Dent no Duas-Caras de uma própria maneira, sem a necessidade de seguir a origem clássica das HQs. Fora isso o seu argumento usou, de uma maneira bem eficiente, os personagens dos longas, como por exemplo o mordomo Alfred Pennyworth, o Comissário Gordon e, especialmente, a Mulher-Gato, todos bem estruturados dentro da narrativa.

A presença do Harvey Dent acabou sendo descartada na sequência direta de 1992 e, quando o personagem retornou como um dos antagonistas no longa “Batman Eternamente” não só ele estava totalmente diferente, em termos de personalidade, com o ator Billy Dee Williams sendo trocado por Tommy Lee Jones que formou uma dupla com Jim Carrey, que estava vivendo o Charada.

Também temos a introdução de outros nomes ilustres, vindos dos quadrinhos diretamente para esse Universo criado pelo Burton. Começando pela Bárbara Gordon, que havia sido totalmente limada dos filmes, aqui ela é apresentada como uma sargento da polícia e noiva do Dent.

Além dela teimosa tão demorada introdução do Robin, que originalmente havia dito planejado para entrar no 2ª filme, onde seria interpretado pelo ator Marlon Wayans, Robin foi descartado do roteiro ainda durante a pré-produção de “Batman Returns”.

Harvey Dent no filme de 1989 e sua versão, como Duas Caras, na HQ

Até mesmo a introdução de Tim Drake, que neste Universo se torna o primeiro Robin (no lugar do já clássico Dick Grayson) não é de todo má, ainda que o garoto já apareça basicamente pronto como sidekick, com todas as habilidades necessárias, e já portanto um uniforme completo, receber de upgrade do Batman apenas uma moto projetada para parecer com o seu icônico Batmóvel.

Enquanto essa HQ se apoiar no tom de “fantasia sombria” que vimos nos dois filmes do Batman de Burton, aqui ele tenta resolver algumas questões muito grandes, como o racismo e a intolerância. Já a corrupção política e a importância da justiça social também são alguns temas explorados na história.

As respectivas histórias de Harvey Dent, Robin e Mulher-Gato tocam nisso, com Batman igualmente impactado com tudo o que ocorre com seu amigo, Harvey encontra suas crenças políticas em turbulência, Robin luta para ajudar sua comunidade e até mesmo a Mulher-Gato chama a atenção para a crescente divisão entre ricos e pobres.

Essa é uma abordagem interessante trazida pelo Hamm que, exceto pela falta de jeito, consegue se sair muito bem. O roteiro também tende a ser um pouco pesado, em as algumas vezes, em seus diálogos. O que ocasionalmente pode causar uma certa lentidão na leitura de alguns momentos da HQ.

Mesmo que o roteiro acabe um tanto tumultuado com a quantidade grande de personagens em uma história razoavelmente curta, percebe-se a clara tentativa de Sam Hamm em nos entregar uma continuidade lógica, algo que, infelizmente, passou longe da cabeça do Joel Schumacher quando ele dirigiu os fracassados Batman Forever – 1995 e Batman & Robin – 1997.

Abaixo vou postar algumas “Model Sheet” de personagens da HQ:

Batman & Bruce Wayne

 

Robin & Tim Drake

 

Alfred Pennyworth, Harvey Bullock e o Comissário Gordon

 

Harvey Dent & Duas Caras

 

Mulher-Gato & Selina Kyle

 

Batmoto do Robin

À primeira vista Batman ‘89 entrega exatamente o que promete ser: um produto nostálgico que dá continuidade à uma adaptação do personagem que é querida por muitos e nunca recebeu uma despedida apropriada, mesmo tendo ajudado a dar o pontapé inicial na febre de filmes de Super-Heróis que Hollywood tem nos entregado nas últimas décadas.

Aqui temos uma história extremamente bem pensada, com sequências de ação emocionantes, uma escalada de apostas com a introdução da Guarda Nacional, de um novo personagem e alguns “Easter-Eggs” impecavelmente inteligentes espalhados ao longo da edição.

Por fim posso dizer que mesmo “Batman ’89” sendo definitivamente um pouco mais “sério” quando comparado a “Batman” e “Batman Returns”, isso não é uma coisa ruim, já que esses momentos conseguem adicionar algumas substâncias necessárias a este conto chamativo e ajudam alguns dos elementos mais díspares do roteiro a se encaixarem.

Ainda há muita ação e humor aqui, incluindo algumas ótimas piadas de cair o queixo, conseguindo manter as coisas divertidas em meio a assuntos pesados e tons sombrios.

Esta pode não ser a história que os fãs do Cavaleiro das Trevas esperavam, no entanto ela é uma HQ bem vinda ao mundo do personagem, “Batman ’89” nos entregou um sucessor digno de “Batman” e “Batman Returns”.

Batman ’89 é a melhor continuação possível de uma continuação amada. Minha esperança, como fã do Universo DC é que o futuro nos traga o que o cinema nunca conseguiu, um crossover entre “Superman ’78” & “Batman ’89”.

“Superman ’78” & “Batman ’89”

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