RELEMBRANDO O LONGA WONDER WOMAN (2017)

 

O ano era 2017, mas precisamente no mês de junho, quando chegava aos cinemas brasileiros o primeiro longa solo da Mulher-Maravilha.

Se em Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Batman v Superman: Dawn of Justice, de 2016) eu me encantei totalmente com a participação da Gal Gadot como a Mulher-Maravilha, onde ela se mostrou como um dos pilares da Trindade da DC, mesmo tendo pouco tempo de tela, já em seu filme solo me apaixonei de vez por ela.

Agora, a criação do Dr. William Moulton Marston, ganhava seu primeiro filme solo. Contrariando muitos críticos que diziam que seu estereótipo não era apropriado, Gadot conseguiu se consolidar no papel da Princesa Diana. Ela não apenas vestiu os braceletes da personagem, como conseguiu sintetizar de forma exuberante sua essência, nos entregando uma Mulher-Maravilha doce, esperançosa, determinada e forte. Além de tudo isso, sua versão da personagem consegue prova que a força de seus valores é ainda maior que a de seus poderes.

Além do talento e da beleza da Gadot, o filme trouxe a talentosa Patty Jenkins, a primeira mulher a comandar um projeto cinematográfico com um orçamento superior a 100 milhões de dólares. A competência da Jenkins fez com que o longa nos fosse entregue com a medida certa de divertimento, charme, energia, harmonia, beleza, divertimento e e claro ação. Infelizmente junto com isso temos temas muito mais complexos e atemporais, tais como machismo, a capacidade de autodestruição que a humanidade insiste em manter desde seu surgimento neste planeta e o racismo.

Nesse longa, Diana é mostrada como uma lutadora imbatível, porém sem deixar de ser um símbolo de carinho e esperança, inspirando aqueles que encontra em sua jornada. O sorriso e o carisma da Gal Gadot consegue tornar para fácil o espectador crer que está ali a encarnação do Amor e do Espírito da Verdade.

“Wonder Woman” contou com um roteiro escrito por Allan Heinberg, que teve como base as ideias do diretor Zack Snyder e de Jason Fuchs, trazendo uma história linear, direta e simples. A trama tem um ótimo inicio, com um prólogo estabelecendo a personagem hoje, como curadora de arte greco-romana no museu do Louvre, em Paris. Em sua sala, Diana relembra de suas origens ao receber um presente enviado pelo Bruce Wayne, a foto original que a ela procurava no filme anterior.

Themyscira, a Ilha Paraíso

Essas lembranças nos levam até a paradisíaca ilha das Amazonas chamada Themyscira. A ilha segue bem a estrutura tradicional das HQs, um lugar brilhante e cheio de vida, sua arquitetura segue mais a de uma antiga vila grega, do que as estruturas gigantes clássicas como víamos nos antigos filmes com temática na Grécia clássica e nas HQs da Mulher-Maravilha desenhada pelo George Pérez.

Os adornos dourados acertam dentro da cidade, por serem circulares eles passam um ar de personalidade e suavidade, mesmo variando de pequenos e sutis até as gigantes espirais na sala do trono. As ruas mostram bem como seria uma cidade à beira de um penhasco e de frente para o mar, possibilitando ela em ser transformada em uma imensa fortaleza.

Em Themyscira, somos apresentados a pequena Diana, interpretada pela Lilly Aspell, filha da Rainha Hippolyta, vivida pela Connie Nielsen, crescendo como a única criança entre as imortais Amazonas e aprendendo a carregar o lema de garantir a Paz e a Justiça ao mundo e sendo apresentada aos mitos e histórias dos antigos Deuses gregos. As pinturas que mostram a origem das Amazonas e a última batalha entre os Olimpianos contra Ares, o Deus da Guerra, são claramente inspiradas nos quadros de Rembrandt e Jean Jaques Louis David.

Depois de descobrir que a pequena Diana estava treinando escondida com sua tia, a General Antíope, interpretada pela Robin Wright, Hippolyta percebe que, apesar de todos os seus esforços iniciais para evitar que isso ocorre-se, deverá permitir a continuação do treinamento em combate da princesa.

Menalippe (Lisa Loven Kongsli), Princesa Diana (Gal Gadot), Rainha Hippolyta (Connie Nielsen) e General Antíope (Robin Wright)

A paz reinou na Ilha Paraíso, até que o capitão e piloto Steve Trevor, vivido pelo Chris Pine, que estava em uma missão secreta dentro do território alemão, em plena 1ª Guerra Mundial, se acidenta durante sua fuga e caiu nas margens de Themyscira, Diana o salva, e com isso aprende sobre a violência que o Homem traz consigo, essa triste lição vem de um batalhão de soldados alemães, que estavam em perseguição ao Trevor e que invadem as praias de Themyscira.

Depois de uma empolgante batalha entre as Amazonas e esse batalhão, a futura heroína aprende, também, sobre a valentia de um estranho ao seu mundo, um “inimigo”, porém ela também aprende o que é a morte, quando ela consegue ver a trajetória de uma bala em direção a uma amazona, e também o de sacrifício, quando ela vê a General Antíope tomar um tiro para salvá-la. Patty aproveitou essa morte para nos mostrar como eram os relacionamentos amorosos na ilha, vemos isso quando Menallipe corre em desespero para ver Antíope, deixando claro, e de forma muito delicada, a relação amorosa das duas.

Durante o interrogatório do Steve, a Diana descobre que uma grande, devastadora e sem precedentes guerra está se espalhando por todo o planeta Terra e decide deixar seu lar, mesmo contrariando sua mãe, essa rebeldia faz com que ela invada o arsenal de Themyscira, onde pega a espada conhecida como Maratona de Deuses (God Killer), um escudo, o Laço da Verdade de Héstia e, como não podia deixar de ser, a conhecida armadura. Para sua surpresa Diana encontra sua mãe antes da partida, que como forma de aprovação, ela lhe entrega uma tiara com o símbolo de sua tia, Antíope.

De posse desses itens sagrados e confiante de que pode parar o conflito, Diana parte para o Mundos dos Homens, onde pretende impedir o perpetuador desse desastre, que para ela seria ninguém menos que Ares, o Deus da Guerra, responsável pela queda dos Deuses do Olimpo, para ela sua morte eliminaria de vez a guerra.

General Ludendorff e a Doutora Veneno

Durante o segundo ato somos apresentados para dois dos vilões do filme, o General Ludendorff, interpretado por Danny Huston e a Doutora Maru, também conhecida como Doutora Veneno, vivida pela atriz Elena Anaya, ficamos sabendo que ela está desenvolvendo um conjunto de gases que podem penetrar em máscaras contra gás e, em alguns casos, conceder uma força sobre-humana a quem o usar.

Fora isso vemos o Steve apresentando o Mundo dos Homens para Diana, um mundo, sujo, escuro e que vem sendo destruído por uma grande guerra e por uma revolução industrial descontrolada, cheio de regras, que para as Amazonas são incompreensíveis. Esse insólito casal funciona de forma perfeita, com uma química boa de acompanhar.

Etta Candy & Diana

Heinberg acertou o tom ao introduzir os elementos de humor sutil e cheio de diálogos bem colocados, como quando ela é apresentado para a Etta Candy, vivida pela atriz Lucy Davis, e fala que o tipo de trabalho que a Etta faz, de secretária, seria chamada de escravidão em sua terra, ou quanto ela vai tirando o manto escuro e chega a mostrar os ombros antes de Etta e o Trevor corram para impedi-la.

O roteiro também não se exime de nos mostrar como era vista a posição que a mulher deveria ter na sociedade do início do século XX, com os homens estranhando, e até hostilizando as atitudes da Diana, que na visão estreita deles não passava de uma mulher dotada de pouca inteligência. Nesses momentos, Diana certeiramente se impunha, com força no momento em que esbraveja contra a decisão de não interferência dos generais da coalizão dos aliados. Ela não os difere por serem homens, mas por suas decisões acovardadas, afinal para ela generais deveriam está na linha de frente e não escondidos em escritórios luxuosos.

Nesse momento a trama acerta por mostrar que o Steve também é uma pessoa a frente do seu tempo, por decidir seguir em frente com seus planos de infiltrar-se e parar os planos da nova Fábrica de Gás, mesmo contrariando seus superiores.

Sendo assim eles, acompanhados do nativo americano Chief (Eugene Brave Rock), do irlandês Charlie (Ewen Bremner), do otomano Sameer (Said Taghmaoui) e contando com o apoio de Sir Patrick (David Thewlis), se arriscam atrás das linhas inimigas, em uma missão praticamente impossível.

Sameer, Steve, Diana, Chief e Charlie.

No meio desse caos da guerra é que Diana manifesta o seu papel de ajudar o necessitado, de fazer a coisa certa na hora certa. É nesse momento que somos presenteados para uma das melhores sequências dos últimos anos e que sempre será lembrada pelo seu impacto.

A Mulher-Maravilha decide encarar de frente a chamada “Terra-de-Ninguém”, território que ficava entre as trincheiras dos aliados e dos alemães, a cena marca bem o momento onde ela soltar de cabelo, retira o manto de cima da armadura e, ao colocar a tiara e subir a escada, nos presenteia com sua presença plena e poderosa.

A imagem da Diana defletindo as balas no campo de batalha é o suficiente para impressionar e inspira os soldados a seguir em frente e tanto ela quanto Steve e o seu grupo avançam, sempre um completando o outro. O Slow-Motion ajuda e marca bem o ritmo da luta.

Batalha na Terra-de-Ninguém

Contando com a ajuda de Chief, Diana finalmente descobre onde fica a fabrica de gás, determinada a acabar com o Deus da Guerra, Diana chega primeiro e inicia luta com Ludendorff, que ela achava ser a encarnação de Ares, ela o vence, matando-o, no entanto nada muda com a morte de Ludendorff e a ingenuidade de Diana começa a cair diante da realidade.

É nesse momento de dúvida e fraqueza que o Steve deixa claro, para ela, que Ares talvez não seja o verdadeiro causador da 1ª Guerra Mundial, e que a humanidade é, na maioria das vezes, a catalisadora de sua própria ruína, mas que independente disso, eles iriam parar as bombas, porque era a coisa certa a fazer. Nesse ponto é que, finalmente, descobrimos a verdadeira face de Ares, o Deus da Guerra. Tratava-se do Sir Patrick, que estava, desde o começo, mexendo os pauzinhos para as coisas irem acontecendo, sempre guiando as ações.

E agora chegamos ao único ponto que me incomodou, o visual “Deus da Guerra” do vilão, como fã da fase escrita e desenhada pelo George Pérez, eu esperava um visual próximo do desenhado por ele, um Deus com uns dois metros de altura, exalando energias e com olhos vermelhos. Um visual tão impactante que o roteirista Greg Rucka, juntamente com o desenhista Nicola Scott, trouxe de volta na edição D.C. Universe Rebirth: Wonder Woman #12, lançada em 2816.

Ares no traço do George Pérez & Ares do filme

Bom, voltando ao filme, descobrimos, junto com a Diana, a sua verdadeira origem, que ela é a filha de Zeus e Hippolyta, e que não foi feita do barro de Themyscira, para servir como salva guarda para o caso de Ares voltar.

Depois de uma grande batalha, Diana passa pelo fim da 1ª Guerra Mundial, o filme encerra com Diana reforçando a sua escolha de ajudar a humanidade, pois agora consegue ver que existe tanto o bem quanto o mal nos corações das pessoas e por saber que fazer o bem ao próximo é o que importa.

O grande triunfo de Mulher Maravilha e de sua diretora é conduzir essa história para esse lugar de identificação ambígua, entre escapismo e inspiração, de onde nascem todos os ícones. Com um orçamento de 150 milhões de dólares, “Wonder Woman” arrecadou cerca de 822 milhões de dólares, provando que todo o trabalho realizado na produção desse filme foi aceito de braços abertos pelos fãs.

Eu duvido que tenha existido alguém nesse mundo, que ao sair do cinema em 2017, não tenha aquecido o coração com as expectativas de ver Diana Prince em ação novamente.

Hoje estamos a porta de um novo Universo DC nos cinemas, onde teremos uma nova atriz envergando o Laço da Verdade e espero que essa próxima versão seja tão cativante e apaixonante quanto a versão entregue pala Gal Gadot foi e sempre será.

Mesmo depois de 06 anos, minha nota para “Wonder Woman” continua e sempre continuará sendo 10.

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