A VEZ EM QUE FRANK MILLER RECRIOU O BATMAN

Depois de termos falado do Superman do John Byrne e da Mulher-Maravilha do George Pérez, chegou a hora de fechar os arcos de reintrodução da Trindade no Universo DC pós-Crise nas Infinitas Terras, com a recriação do Cavaleiro das Trevas.

Além da dupla Miller/Mazzucchelli, a saga ” contou com as cores de Richmond Lewis e letras de Todd Klein e foi publicada originalmente nas edições “Batman # 404” até “Batman #407”, todos lançados, nos Estados Unidos, em 1987.

A ideia de refazer a origem do Batman começou a nascer quando o diretor editorial da DC, Dick Giordano, contratou o jovem desenhista/roteirista Frank Miller para produzir a saga “O Cavaleiro das Trevas” (The Dark Knight Returns), uma das cláusulas do contrato exigia que ele escrevesse uma nova história de origem do Batman, o próprio Miller confirmou isso durante a Fan Expo 2016, realizada em Toronto, no Canadá.

A dupla Frank Miller & David Mazzucchelli

Quando chegou a época de preparar essa história o Miller estava ainda com contrato com a Marvel Comics para produzir, juntamente com o Mazzucchelli, a saga “Demolidor: A Queda de Murdock” (Daredevil: Born Again) que foi aclamado pela crítica e pelo público.

Ao assumir o projeto de “Batman: Ano Um” (Batman: Year Onde) Miller decidiu dividir as tarefas, pelo fato dele ainda estava sobrecarregado, já que ele tinha que lidar com trabalhos de escrita e ilustração simultaneamente. Com a produção de Batman Miller resolveu apenas escrever, passando os trabalhos de desenho para o David Mazzucchelli, enquanto que as cores ficaram com a esposa de Mazzucchelli, Richmond Lewis, Todd Klein assumiu o cargo de letrista da história, já a edição ficou nas mãos do Dennis O’Neil. Ao escrever o roteiro Miller manteve a história básica de origem do Batman , feita pela dupla Bob Kane e Bill Finger no longínquo ano de 1939, ele se concentrou em escrever sobre partes dessa origem que nunca foram exploradas.

Era uma história que havia sido contada muitas vezes ao longo de todas essas décadas de história do personagem, às vezes ajustando pequenos fatos, porém sem mudar nada dos detalhes principais, como o assassinato dos pais do jovem Bruce Wayne no Beco do Crime, fazendo com que ele prometesse vingar suas mortes, porém no lugar de mostrar o Bruce como um playboy mimado, Miller usou o “Ano Um” para nos mostrar algo diferente, aqui veríamos um Bruce inexperiente, um homem raivoso, vulnerável e muitas vezes ineficaz, em suas primeiras vigílias ele foi baleado pela polícia e chegou a ser superado por seus oponentes.

As HQs originais de “Batman: Year One”

Miller acabou criando uma espécie de “Proto-Batman”, um personagem mais realista, inclinado ao vigilantismo aqui temos um incomum toque Noir, com violência nas ruas e uma visão mais realista de porque um órfão multimilionário escolheria se vestir com um collant, capuz e capa, se tornando o Batman. A ação mostrada é, até certo ponto bem violenta com ossos e narizes sendo quebrados.

Além de mostrar o primeiro ano de atuação do Batman, a história ainda explora a vida do então detetive da Polícia de Gotham, James Gordon, e o início de sua eventual aliança com o Cavaleiro das Trevas na luta contra o submundo criminoso de Gotham City.

O lado sombrio de Gotham City

Outra personagem que teve sua origem mostrada, rapidamente, em “Batman: Ano Um” foi a Selina Kyle, a Mulher-Gato, mostrada como uma prostituta que, inspirada pelos atos do Cavaleiro das Trevas, confecciona um uniforme para si, mas com o objetivo de se tornar uma ladra.

O nascimento do Cavaleiro das Trevas…

Em relação a arte, o desenhista Mazzucchelli procurou fazer com que “Batman: Ano Um” tivesse uma aparência sombria, sua interpretação de como seria a Gotham City foi preparada de tal forma que pudesse simbolizar a toda a corrupção que permeia a cidade, apresentando cores enlameadas que davam a impressão de que a cidade estava sempre suja, precisando desesperadamente de um herói.

Finalmente em 1988, nas comemorações do 50ª aniversário de criação do Batman, a DC deu a aprovação para a publicação de “Batman: Year Onde” como uma Graphic Novel em brochura e capa dura, contendo cerca de 96 páginas.

Para essa Graphic Novel, o desenhista Mazzucchelli queria especificamente que a editora usa-se um papel fosco para impressão, então as obras de arte originais foram ligeiramente ajustadas com Lewis utilizando um novo conjunto de paletas de cores para recolorir toda a história, a fim de acomodar as mudanças visuais, já em 1989, foi publicado o “The Complete Frank Miller Batman”, contendo as histórias “Batman: Year One”, “Batman: Wanted – Santa Claus: Dead or Alive!” e “Batman: The Dark Knight Returns”.

… e da ladra conhecida como Mulher-Gato

Com a aproximação do lançamento do filme “Batman Begins”, no mês de junho de 2005, em abril do mesmo ano, a DC resolveu lançar uma “Deluxe Edition”, em capa dura, do “Batman: Year One”. A próxima publicação irá ocorrer, segundo um anúncio publicado pela IDW Publishing em maio de 2023, em algum momento de 2024. Para isso o desenhista Mazzucchelli fornecerá pessoalmente as obras de arte para digitalização.

No Brasil, as histórias que compõe o arco “Batman: Year One” (Batman: Ano Um) foram publicadas em língua portuguesa pela primeira vez pela Editora Abril, sob o selo Abril Jovem, nas revistas “Batman 2ª Série” do #01 até o #04, de setembro a dezembro de 1987, no tradicional formatinho, colorido, lombada com grampos.

Sua próxima publicação, também pela Editora Abril, ocorreu dois anos depois em dezembro de 1989, desta vez com formato americano, colorido, lombada quadrada e capa cartão, já trazendo o título “Batman: Ano Um”, a HQ teve sua 3ª publicação lançada em abril de 2002.

Gordon descobrindo a corrupção da Polícia de Gotham

Em 2005 o Universo DC saiu da editora Abril e passou a ser publicado pela Editora Panini, até o dia de hoje, desta vez a história foi publicada na 3ª edição da série “Grandes Clássicos DC”, em julho de 2005, em
formato americano, colorido, com lombada quadrada e capa cartão.

Continuando suas publicações, a próxima ocorreu em agosto de 2011, em uma edição mais luxuosa, capa dura, formato americano, lombada quadrada, a mesma edição, com as mesmas especificações, foi publicado em outubro de 2014 e dezembro de 2016. A mais nova publicação dessa história ocorreu a poucos meses, em setembro deste ano, com o título “Batman: Ano Um – Edição Absoluta”.

Primeiras incursões do Batman

Com o sucesso das vendas da história, começaram a cogitar uma adaptação para o cinema, começando com o diretor Joel Schumacher que, originalmente, tinha em mente uma adaptação da HQ “Batman: Year One”, no entanto a Warner Bros. rejeitou a ideia, pois queria uma sequência, não uma prequel.

A saída que o Schumacher encontrou foi incluir alguns elementos diretamente da Graphic Novel do passado do Bruce, que lembrariam vagamente, a Graphic Novel. Em 2000, a Warner Bros. quis reiniciar a franquia do Cavaleiro das Trevas, e para isso convidou o diretor Darren Aronofsky para escrever e dirigir uma nova produção.

O reboot deveria ser baseado em “Batman: Year One”, no entanto, mesmo com a colaboração de Frank Miller escritor da HQ, o roteiro começou a se distanciar muito da história original, pois apesar de manter a maioria dos temas e elementos presentes na revista, evitava situações que eram parte intrínseca da história original.

Primeiro encadernado em capa dura publicado no Brasil, lançado em agosto de 2011 e a versão “Edição Absoluta”, publicado em setembro de 2023

O resultado foi que com todo esse impasse a produção acabou sendo abandonada, tanto pelo estúdio, pelo diretor Aronofsky como pelo próprio Frank Miller. Em 2016, Miller explicou que o filme foi cancelado por causa de diferenças criativas entre ele, Aronofsky e Warner Bros:

“Foi a primeira vez que trabalhei em um projeto do Batman com alguém cuja visão do Batman era mais sombria do que a minha. Meu Batman era bom demais para ele. Nós discutimos sobre isso, e eu dizia: 1Batman não faria isso, ele não torturaria ninguém’ e assim por diante. Fizemos um roteiro e fomos maravilhosamente compensados, mas então a Warner Bros leu e disse: ‘Não queremos fazer este filme’. Os executivos queriam fazer um Batman para o qual pudessem levar os filhos”.

O Batman só veio a ter seu reboot em junho de 2005, quando o diretor Christopher Nolan começou a sua trilogia do Homem-Morcego através do filme “Batman Begins”, que teve inspirações tanto em “Batman: Year One”, como “Batman: The Long Halloween” entre outras histórias. Esse primeiro filme e sua sequência “The Dark Knight”, além da estrutura narrativa, adotam vários elementos da Graphic Novel, como por exemplo a cena final com o James Gordon revelando a chegada do Coringa em Gotham City, espelha perfeitamente o final da HQ.

Primeiro indicio da chegada do Coringa

A Graphic Novel só veio ter uma adaptação fiel quando um longa animado, que fazia parte do selo DC Universe Animated Original Movie, foi lançado. Ele foi o 12º filme animado da DC, realizado pela Warner Premiere em parceira com a Warner Bros. Animation.

Contando com a produção de Bruce Timm e dirigido pela dupla Sam Liu Lauren Montgomery, “Batman: Year One” (Batman: Ano Um) contou com roteiro de Tab Murphy e teve sua premiere realizada durante a San Diego Comic-Con em 22 de julho de 2011 e deve seu lançado oficialmente realizado em 18 de outubro do mesmo ano.

O longa contou com as dublagens originais de Benjamin McKenzie como Bruce Wayne/Batman, Bryan Cranston como o detetive James Gordon, Eliza Dushku como Selina Kyle/Mulher-Gato, Katee Sackhoff como Sarah Essen, Jon Polito como Comissário Loeb, Fred Tatasciore como o Detetive Flass, Alex Rocco como Carmine “Roman” Falcone e Jeff Bennett como Alfred Pennyworth.

Já a versão brasileira foi dublado pelo Estúdio Cinevídeo e contou com as vozes de Duda Ribeiro como Bruce Wayne/Batman, Jorge Vasconcellos como o Detetive James Gordon, Aline Ghezzi como a Selina Kyle/Mulher-Gato , Mauro Ramos como o Comissário Loeb, Eduardo Borgerth como o Detetive Flass, Jacqueline Brandão como a Detetive Sarah Essen, José Augusto Sendim como o mafioso Carmine “Roman” Falcone e Ayrton Cardoso como o mordomo Alfred Pennyworth.

Blu-Ray em 4K Ultra HD de “Batman: Year One”