A HISTÓRIA DA SÉRIE DE TV DO BATMAN (PARTE II)

Na parte I falamos sobre o início da produção da série do Batman, lançada em 1966, terminamos falando sobre como foi o inicio da pré-produção da série, agora vamos falar um pouco sobre sobre os demais membros do elenco e sobre alguns dos Bat-veículos utilizados.

Muitas coisas que aparecem na série acabaram influenciando os quadrinhos até hoje, temos como exemplo o vilão Charada, que antes de ser interpretado pelo ator Frank Gorshin era pouco relevante nas tirinhas, no entanto depois da sua aparição na TV o personagem adquiriu maior relevância.

Os principais Vilões da série Pinguim, Charada, Mulher-Gato e Coringa

Por falar em vilões da Dupla Dinâmica, os apresentados na série eram um prodígio, além do Charada do Gorshin tivemos o Pinguim, interpretado pelo Burgess Meredith, ator que anos mais tarde se tornaria mundialmente reconhecido, ao interpretar Mickey Goldmill, treinador do Rock Balboa, na famosa franquia “Rock” do Silvestre Stallone.

Também tivemos o icônico “Príncipe Palhaço do Crime”, o Coringa, que foi interpretado pelo Cesar Romero, que pendia mais para o palhaço do que para o assassino maníaco das HQs. Curiosidade, Romero cultivava um bigode a décadas e não quis raspa-lo para o personagem, a saída que a equipe de maquiagem achou foi bem simples, cobri-lo com a maquiagem branca da pele do Coringa.

Já em relação a Mulher-Gato, a personagem foi vivida durante a série, por três atrizes, a Lee Meriwether, Julie Newmar e Eartha Kitt. Kitt foi uma das únicas atrizes negras da época a ter destaque na TV norte-americana.

As três atrizes que viveram a Mulher-Gato na série, a Julie Newmar, Lee Meriwether e Eartha Kitt

Para o papel do Alfred Pennyworth, o eficiente mordomo da família Wayne, foi escolhido um ator britânico chamado Alan Napier. Durante os anos 1950 Napier atuou em quatro episódios da série “Alfred Hitchcock Presents” (Alfred Hitchcock Apresenta – 1955). Na série “Batman” Napier representou o mordomo Alfred com um delicioso prazer até o seu “cancelamento” em 1968.

Napier manteve a sua carreira até a década de 1980, com papéis na televisão, tais como minisséries e semanários, como O Livro Chase, por exemplo. Curiosidade sobre o ator, ele era primo de Neville Chamberlain, que atuou como Primeiro-Ministro britânico entre 1937 e 1940, bem como bisneto do escritor Charles Dickens, famoso pelo livro “Um Conto de Natal” (A Christmas Carol – 1843).

Para o Comissário James Gordon a produção contratou Neil Hamilton (1899 – 1984), um ator norte-americano de teatro, cinema e televisão, Hamilton atuou em mais de 260 produções, passando pela Era do Cinema Mudo e já Sonorizado. Neil foi o último ator do cast da série a participar de todos os 120 episódios da série.

Os atores Alan Napier, Neil Hamilton e Stafford Repp

Curiosidade, durante a década de 1940, a vida pessoal e profissional do Hamilton estava em um nível tão baixo que o ator chegou a cogitar o suicido, mesmo sendo Católico Apostólico Romano, além de ter sido membro da “Good Shepherd Parish” e da “Catholic Motion Picture Guild” em Beverly Hills, Califórnia.

Seu plano era se atirar do alto das montanhas em Santa Mônica, no entanto durante a caminhada ele encontrou um padre e lhe contou toda a sua história e o encorajou a fazer uma novena. Ao final dos noves dias de oração, Hamilton recebeu uma ligação com oferta de emprego, para atuar em filmes da Universal Studios, depois desses dia ele nunca mais teve pensamentos de suicídio.

Outro personagem icônico era o Chefe de Polícia Miles O’Hara, que às vezes também era chamado de “Clancy O’Hara”, um policial irlandês, meio bonachão e mal-humorado, que atuava como “parceiro” de escritório do Comissário Gordon. O personagem era uma criação exclusiva para a TV.

Para interpretá-lo, a produção contratou o ator Stafford Repp (1918-1974) que, na época, vinha de papéis de ator-convidado em séries como “Jeannie é um gênio”. Stafford já era um veterano do cinema e TV, com uma carreira com quase 150 trabalhos, infelizmente ele não era creditado em muitos desses trabalhos, Stafford Repp interpretou diversos policiais e homens da lei em programas de televisão. Curiosamente, seu irmão era policial na vida real.

Com o cancelamento da série, em 1968, Stafford voltou a atuar como convidado em outros programas de televisão. Ele ainda atuou nos filmes de terror “Scream, Evelyn, Scream!” de 1970 e “Cycle Psycho” de 1973.

A próxima atriz do “Núcleo do Bem” era a Madge Black, que havia sido contratada para interpretar a Tia Harriet, personagem que não existe nas HQs do Cavaleiro das Trevas. Sua aquisição ao cast foi em decorrência das teorias que diziam existir um envolvimento homossexual entre o Bruce Wayne e o Dick Grayson.

Madge Black interpretando a Tia Harriet

Durante a San Diego Comic-Con de 2014 o famoso “Hall H”, maior salão do centro de convenções, recebeu alguns membros do cast da série “Batman”, de 1966, para um painel que se concentrou em contar histórias daquela época.

Entre as histórias contadas teve uma ligada ao nosso tópico, a atriz Julie Newmar pediu para o Adam West contar o motivo da série ter acrescentado a Tia Harriet, a resposta do intérprete do Batman foi:

“Porque nós dois éramos dois caras andando por aí de colantes, que vivíamos sozinhos na mansão Wayne, o que levou algumas pessoas a acharem que isso era muito suspeito, então inventaram a Tia Harriett, que passaria a morar na Mansão Wayne para trazer biscoitos e ficar de olho na gente e garantir que eu e Burt não fossemos um casal. Era tão bobo.” Relembrou o ator entre risos.

Essas teorias, boatos, surgiram principalmente em decorrência do lançamento do livro “Seduction of the Innocent”, livro do psiquiatra alemão Fredric Wertham e publicado em 1954, o lançamento e a repercussão fez com que o Congresso americano desse início a uma investigação que teve como foco a indústria dos quadrinhos.

No livro, o Wertham afirmava que a Dupla Dinâmica poderia ser um casal homossexual, dado que Bruce Wayne não era casado e havia adotado um garoto em idade avançada. Mediante toda a repercussão a própria DC veio a público dizer que o personagem não é homossexual, apesar dos subtextos evidentes presentes na série. Logo após a publicação desse livro foi elaborado, pelos próprios editores das HQs, o “Comics Code Authority”, que passou a regular o conteúdo do setor e se autocensurarem.

O polêmico livro e seu autor, o Fredric Wertham

Como forma de atrair o interesse do mercado exterior para a série, ainda na primeira temporada se teve a ideia de fazer um longa metragem para ser exibido nos cinemas de outros países, e assim o fizeram, aproveitando os figurinos e os cenários que já estavam prontos. Assim em 30 de Julho de 1966 estreou nos cinemas o longa “Batman: O Homem Morcego”, obtendo em divulgar a série em outros países.

Neste longa-metragem a Dupla Dinâmica enfrenta o Coringa, o Charada, o Pinguim e a Mulher-Gato, todos os juntos confabulados para destruir nossos Super-Heróis. Para o filme foram construídos a Bat-Lancha e o Batcóptero.

A Batlancha utilizada no filme e na série foi confeccionada, especialmente para o longa, pela Glastron Industries, com projeto da dupla Mel Whitley e Robert Hammond, ela foi baseada em uma lancha Glastron V-174.

Já para o Batcóptero o produtor William Dozier optou por alugar o helicóptero, um aparelho modelo G3B-1 Bell N3079G, em vez de comprá-lo para aliviar os custos, quanto aos ajustes no helicóptero, ou seja, as asas de morcego, a cor da pintura e o conhecido emblema do morcego negro na elipse amarela, foram adicionados pela própria 20th Century Fox Studios. Falando sobre essas asas fixadas no aparelho, elas acabaram prejudicando a aerodinâmica da nave, fazendo com que ela chega-se perder cerca de 45% de sua potência, o que deve ter causado alguns pequenos problemas.

Batcóptero.

 

Batlancha

Para se ter uma ideia dos custos, o aeroporto usado para as filmagens de decolagem e pouso do Batcóptero foi o Aeroporto Van Nuys, onde se gastou cerca de 760 dólares por meros cinco dias de filmagens. Com o término das gravações o helicóptero foi devolvido ao proprietário. É por causa disso que o Batcóptero raramente era visto em episódios da série, eram simplesmente cenas tiradas diretamente do longa.

Perguntado uma vez se ele chegou a voar no Batcóptero, o ator Adam West respondeu:

“Você está brincando? Eles nem me deixaram pilotar a Batlancha, imagine o Batcóptero! Mas mesmo assim eu fiquei muito bem nele!”

Para operar o Batcóptero foi chamado o piloto Harris Haus, que já pilotou helicópteros em vários filmes, como Rambo III e Robocop III.

Já durante a 2ª temporada a produção da série foi percebendo um acentuado nível de queda na audiência do programa, o show já parecia simplesmente repetitivo demais para o público adulto, o que mantinha os níveis eram as crianças, que permaneciam fiéis, com tudo isso, ao final da temporada “Batman” enfrentava a possibilidade de ser cancelado.

Vendo isso o Will Dozier, em uma tentativa de refrescar a série, teve em 1967, a ideia de adicionar um novo personagem à mistura, a Batgirl. A personagem havia sido criada pela dupla Bob Kane e Sheldon Moldoff e que teve sua estreia na HQ Batman #139 de1961, assim, uma apresentação de 10 minutos foi gravada e exibida para os executivos da ABC, tendo a linda Yvonne Craig como Bárbara Gordon/Batgirl, Tim Herbert como o vilão Mariposa Assassina (Killer Moth) e a dupla Adam West e Burt Ward como Batman e Robin.  Em uma ocasião Yvonne declarou o seguinte:

“Quando me ligaram e perguntaram se eu gostaria de fazer Batgirl na série ‘Batman’, fiquei muito interessado. Eu estava procurando uma série. Quando entrei no escritório do Sr. Dozier, ele disse ‘E é claro que você viu nosso programa’ e eu disse que não, mas que assistiria a todo o verão em reprises se conseguisse esse emprego, porque preciso saber como é e como me encaixo. Ele não parecia ofendido com isso. Percebi que estava numa situação de sonho de toda atriz que aspira a interpretar um papel na televisão. Não havia preocupações com o público, já que ‘Batman’ é uma série estabelecida! Não houve preocupação, pois não venderia como já estava vendido. Como veterano de quatro pilotos de TV não vendidos, apreciei essa segurança.”

Yvonne Craig como Bárbara Gordon/Batgirl

Com a ABC gostando do que foi mostrado, ela resolveu renovar a série para mais uma temporada, porém como forma de baixar os custos de produção, reduziu a exibição para uma vez por semana, nas noites de quinta-feira e cortou o orçamento, o que significou cenários ruins, como se era pra pensar, tais mudanças desgastaram mais ainda a série, fazendo com que essa 3ª temporada não fosse sucesso de reviravolta que eles esperavam, assim apenas 26 episódios foram feitos, com a Batgirl aparecendo em todos eles.

Mesmo com a participação da Batgirl, a série “Batman” não conseguiu se salvar, assim em 14 de março de 1968 a ABC cancelou o programa, com isso os produtores esperaram por duas semanas , na esperança de que algum outro canal compra-se a série, porém como ninguém mostrou interesse, eles desmontaram um dos principais , se não o mais importante, cenário da série, a Batcaverna.

E aí o pior aconteceu, algum tempo depois o canal NBC se ofereceu para continuar a série, no entanto mediante o auto custo de construção de uma nova Batcaverna, a emissora acabou desistindo da compra, pondo um FIM a série mais “Camp” de um Super-Herói.

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