PRIMEIRA APARIÇÃO EM LIVE-ACTION DO BATMAN

Quando conversamos com nossos amigos sobre qual teria sido a primeira aparição, em live-action do Batman, o primeiro nome que normalmente surge é o do ator Adam West, responsável pelo “Batman” de 1966, cuja história já contei aqui e aqui.

Na realidade West foi a 3ª pessoa a vestir o uniforme do Cavaleiro das Trevas, cerca de 20 anos antes, em plena Segunda Guerra Mundial, e apenas 4 anos após a primeira aparição do Batman na já clássica Detective Comics #27 lançada em maio de 1939, o personagem teria sua primeira aparição em “The Batman”, lançada em 1943, cinessérie em 15 capítulos com produção de Rudolph C. Flothow, juntamente com a Columbia Pictures e direção de Lambert Hillyer.

Os atores Lewis Wilson e Douglas Croft como Batman & Robin

Para os papéis principais foram chamados os atores Lewis Wilson, que envergaria o manto e o capuz do Homem-Morcego, enquanto que o jovem Douglas Croft seria seu parceiro Robin, o Menino Prodígio. Já para o papel de vilão foi criado um personagem original chamado Dr. Daka, um agente secreto do governo imperial japonês, interpretado pelo ator J. Carrol Naish, completando o elenco tinha a presença da atriz Shirley Patterson, interpretando Linda Page, que viria a ser o interesse amoroso de Bruce Wayne, além de William Austin que se tornou o primeiro ator a dá vida ao carismático como, o mordomo da Família Wayne, Alfred Pennyworth.

Os atores William Austin que deu vida ao carismático mordomo Alfred Pennyworth e o ator J. Carrol Naish, que interpretou o vilão Dr. Daka

A trama geral da série era relativamente básica no que diz respeito às histórias do Batman, o vilanesco Dr. Daka estava atuando em Los Angeles, na Califórnia, desenvolvendo uma arma para o Império Japonês, para evitar isso a Dupla Dinâmica, que nessa versão eram agentes do Governo americano, ao invés de agirem como vigilantes independentes, esta mudança ocorreu em decorrência à censura da cinessérie, que não iria permitir que a Dupla tomasse a lei em suas próprias mãos, deveria detê-lo antes dessa arma ser concluída.

Por ser uma produção da década de 1940, produzida em plena Segunda Guerra Mundial, assim como muitos outros trabalhos populares de ficção da época, “The Batman” continha sentimentos anti-germânicos e anti-nipônicos, traduzidos através de alguns comentários, como por exemplo em uma cena, onde um dos capangas do Dr. Daka lhe diz:

“That’s the kind of answer that fits the color of your skin” (Esse é o tipo de resposta que combina com a cor da sua pele).

Cadillac usado pelos Heróis, ele foi o antecessor do famoso Batmóvel

Outro ponto onde o projeto sofreu foi em relação ao seu orçamento baixo, assim como todas as outras séries produzidas nesse período, por causa desse problema de dinheiro não houve nenhuma tentativa em criar uma versão do Batmóvel, no lugar do famoso carro do Batman, a produção providenciou um Cadillac preto, que tanto era usado pelo Bruce e Dick, quando pela Dupla Dinâmica, e nas “duas versões” o carro era dirigido pelo Alfred, esse fato deveria ter afetado suas identidades secretas, no entanto os cidadãos e vilões pareciam não perceber isso, essa situação pode ter mostrado a necessidade do personagem ter um veículo mais secreto, que pudesse refletir de uma forma mais eficiente seu papel como um Herói com tecnologia. Outro ponto não utilizado foram os famosos “Cintos de Utilidade”, que apesar de estarem presentes nos uniformes, nenhum de seus famosos “gadgets” foram utilizados.

Mesmo com um orçamento pequeno, a cinessérie “The Batman” é conhecida por além de ter sido a primeira aparição em live-action do Batman, de ter trazido alguns elementos dos quadrinhos, que rapidamente se tornariam partes importantes da mitologia do Homem-Morcego, como a “BatCaverna” e sua entrada secreta, através de um relógio de parede dentro da Mansão Wayne.

Bruce, Dick e Alfred na Mansão Wayne

A produção também mudou o curso de como a aparência física de Alfredo passaria a ser retratada nas futuras histórias do Batman. Na época em que o personagem chegou aos cinemas, o fiel Alfred era desenhado como um cavalheiro baixinho e gorduchinho. Posteriormente os desenhistas passaram a mostrar o Alfred como um homem magro e ostentando um pequeno bigode fino, exatamente a aparência que o ator William Austin deu ao personagem.

Já era comum a ocorrência de erros de continuidade em filmes e séries, e o mesmo não deixou de ocorrer em “The Batman”, como por exemplo o Cavaleiro das Trevas perdendo sua capa durante uma luta, e na cena seguinte ela já está de volta, sem explicação de como ocorreu isso. Outro erro era na narração da abertura do primeiro capítulo, que afirmava que a Mansão Wayne estaria localizada na fictícia Gotham City, porém no quinto capitulo uma carta mostra que a Mansão Wayne se localizava em Los Angeles.

Ainda no primeiro capítulo, Batman, ao ouvir o nome do Dr. Daka pergunta “quem é esse?” No entanto, no último capítulo, Batman fala para Daka que ele e outros agentes estão procurando por Daka desde que ele matou dois policiais que tentavam deportá-lo, porém tal fato nunca é mencionado em nenhum dos capítulos da cinessérie. Comunicados de imprensa, enviados pela produtora, anunciaram “The Batman” como um “Super Seriado”, o estúdio deu à campanha publicitária o peso equivalente a de um longa-metragem.

Batman & Robin na BatCaverna

Batman teve seu lançamento em 16 de julho de 1943 “The Batman” foi um sucesso comercial, tanto que em 1965, todo o seriado foi relançado em cinemas com o título “An Evening with Batman and Robin” (Uma noite com Batman e Robin), provando ainda ser muito popular. O sucesso dessa reapresentação motivou a criação da série de TV “Batman”, lançada em 1966 e estrelada pela dupla de atores Adam West e Burt Ward.

Falando sobre a recepção que a cinessérie obteve, podemos começar com uma observação dada, em 1971, pelo autor Raymond Williams Stedman, que declarou o seguinte: ” ‘The Batman’ ganhou boas criticas da imprensa na época”, porém ela pouco merecia essas boas críticas, Raymond passou a descrever a produção como uma farsa não intencional.

Já a dupla Jim Harmon e Donald F. Glut descrevem “The Batman” como um dos seriados mais ridículos já feitos, apesar de sua simplicidade franca. No entanto ela teve um sucesso suficiente para que, em 1949, o público tivesse uma segunda cinessérie chamada “Batman & Robin”, da qual falaremos em um futuro próximo.

Sobre as escalações podemos dizer que os nomes Lewis Wilson como e Douglas Croft foram fortemente criticadas, alguns críticos diziam que os atores e seus dublês não tinham o estilo e a graça que seus personagens demonstravam nos quadrinhos. Para início acharam o físico de Wilson pouco atlético e sua voz era aguda demais, além de ter um forte sotaque de Boston. Já sobre Croft foi dito que ele era considerado velho demais para interpretar Robin e seu personagem parecia ainda mais velho ainda quando era substituído por um dublê de pernas peludas.

Batman capturado pelos capangas do Dr. Daka

Sobre os uniformes da Dupla Dinâmica, a crítica era que eles eram pouco convincentes, e embora o traje do Batman fosse fortemente baseado em sua aparência original, ele recebeu críticas por ser muito folgado e pelo fato de que as orelhas de seu capuz eram mais parecidas com um par de chifres do diabo.

Por fim a cinessérie “The Batman” é, em última análise, uma boa representação para qualquer fã de longa data do Batman, já que muitos lados do personagem são explorados com grande efeito. O ator Lewis Wilson interpreta o Cavaleiro das Trevas de uma forma quase semelhante a maneira como o dublador Kevin Conroy interpretaria décadas depois.

E finalmente Batman e Robin capturam o vilanesco Dr. Daka

Aqui temos a representação de um playboy preguiçoso, contrapondo-se ao seu verdadeiro lado, do vigilante Batman. Enquanto o Batman do Lewis pode ser ameaçador para seus inimigos, ele também é jovial e brincalhão enquanto luta contra o crime. A precisão do personagem é mostrada quando ele começa a usar seus conhecimentos de ciência, sua capacidade detetivesca e suas habilidades de luta.

Um detalhe do personagem foi usada nessa cinessérie, sua capacidade de se disfarçar e usar um pseudônimo, assim como é frequentemente mostrado nas HQs do personagem, infelizmente esse detalhe foi esquecida nas atuais produções cinematográficas do Batman. O impacto dessa produção seria sentido nas HQs do Batman por anos.

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