COMO FOI PRODUZIDA A SÉRIE “ADVENTURES OF SUPERMAN”

Ano passado trouxe nesse site informações sobre a produção da cinessérie que trouxe, primeira vez, o Superman aparecendo em live-action, sob a atuação do Kirk Alyn. Hoje é a vez de falar sobre a produção da primeira série de TV do Homem de Aço, a série “Adventures of Superman” foi a primeira produção televisiva baseada nos personagens e conceitos desenvolvidos pela dupla Jerry Siegel e Joe Shuster, criadores do Último Filho de Krypton, em 1938.

Tudo começou em novembro de 1951, quando o produtor de filmes B californiano chamado Robert L. Lippert, que produziu um filme em preto e branco de cerca de 58 minutos de duração, estrelado pela dupla de atores George Reeves e Phyllis Coates chamado “Superman and the Mole Men”, com roteiro de Robert Maxwell e Whitney Ellsworth sob o pseudônimo de Richard Fielding, com direção de Lee Sholem.

Poster do longa “Superman and the Mole Men”

O longa acabou de servir como teste de aceitação para uma série do Homem de Aço, o sucesso levou ao início da produção da primeira temporada de “Adventures of Superman” entre os meses de agosto/setembro do mesmo ano. Porém acabou ocorrendo uma interrupção da produção por cerca de um ano, apenas em setembro de 1952, quando a fabricante de cereais Kellogg’s, que já havia patrocinado a série de rádio do Superman, concordou em patrocinar a série de TV. A produção foi a primeira e última sindicalizada da TV, e as datas em que os episódios foram ao ar são, geralmente aceitas, apesar de controversas, como o seu início em 19 de setembro de 1952 e o seu término em 28 de abril de 1958.

Nas duas primeiras temporadas, lançadas ainda em preto e branco, e gravadas em monocromia, pela ABC, no lugar das cores tradicionais, o uniforme utilizado nesse período tinham as cores cinza (azul), marrom (vermelho) e branco (amarelo), essas cores foram utilizadas pelo fato de serem mais apropriados para as filmagens com tons de cinza em filme preto e branco. Após duas temporadas, os produtores resolveram filmar em cores, o que foi uma atitude ousada para a época, já que eram poucas as séries de TV em cores produzidas nos anos ’50, já que aparelhos televisivos em cores só passou a ser padronizada em 1953, sendo assim a maioria dos espectadores proprietários de aparelhos em preto-e-branco não podiam ver a série em cores. Mas mesmo assim os produtores já visualizaram a importância da cor no futuro, com isso as filmagens dos episódios de cores começaram em 1954, e foram transmitidas em monocromia a partir de 1955, com os gastos extras os produtores se viram forçados a cortar o número de episódios, por temporada, pela metade.

Para manter as temporadas de 26 semanas seria preciso que houvesse uma manejamento de episódios, ficando 13 episódios inéditos coloridos e 13 reprises das séries mais antigas em preto e branco, já as impressões monocromáticas dos episódios em cores tiveram que ter um tratamento de um modo a produzir um contraste um pouco semelhante com as cores do novo traje de Reeves, como houve com o das temporadas anteriores, onde houve um aumento do contraste a cada temporada, sem isso os tons de cinza das cores azul e vermelho, de outro modo teriam sido quase indistinguíveis.

George Reeves com a Phyllis Coates na 1ª temporada & George Reeves e Noel Neill no restante da série.

Perguntado o motivo de não ter interpretado o Superman na série, Bud Collyer, responsável pela voz do Superman no programa de rádio, respondeu que aos 43 anos se sentia velho demais para desempenhar o papel, já o ator Kirk Alyn, que foi o primeiro ator a personificar o Superman em dois seriados de cinema, declarou que recusara o papel da série de TV por medo de acabar tendo sua carreira vinculada apenas ao Homem de Aço, ao mesmo tempo os produtores da série afirmaram que nem Alyn, nem os atores Tommy Bond ou Pierre Watkin, foram seriamente considerados para a ingressarem a série.

A solução encontrada pela produção para interpretar Superman/Clark Kent, foi trazer de volta o ator George Reeves, tendo a Phyllis Coates novamente interpretando a repórter Lois Lane, porém ela permaneceu apenas na primeira temporada, já que havia assumido outros compromissos, com isso ela acabou sendo substituída pela atriz Noel Neill, que não era a primeira vez que assumia esse papel, já que a mesma havia interpretado a Lois nos cinesseriados Superman de 1948 e Atom Man vs. Superman de 1950, Noel ficou com o papel durante todas as temporadas posteriores.

Já para os papéis do jovem jornalista Jimmy Olsen, do editor-chefe do Planeta Diário Perry White e do Inspetor Henderson, foram escalados respectivamente, os atores Jack Larson, John Hamilton e Robert Shayne. Esse elenco conseguiu se manter intacto até o episódio final, tendo o ator Phillips Tead ocasionalmente juntando-se ao elenco nas últimas temporadas, no papel do Professor Pepperwinkle.

Os atores George Reeves, Jack Larson, Noel Neill e John Hamilton.

Como forma de promover e divulgar a série, os atores Reeves, Hamilton e Larson ganharam dinheiro extra, apareceram em vários comerciais de Kellogg’s durante a segunda temporada, porém a Noel Neill nunca foi chamada para tais propagandas, pois a mentalidade dos patrocinadores na época deixavam eles preocupados com o fato de que cenas de Clark comendo um café da manhã ao lado da Lois fossem muito sugestivas para as “jovens mentes influenciáveis” da América.

Nos episódios das duas primeiras temporadas podemos perceber uma forte influência do estilo Noir, com toques de seriados de ação e aventura, além de pitadas de melodramas criminais da década de 1940, essa semelhança aumenta ainda mais com as características dos atores de apoio, sempre nos papéis de assaltantes e gângsteres, enquanto isso podemos ver que a cidade de Metrópolis possui sua parcela de ruelas escuras e várias cenas com muitos tiroteios, perseguições e facadas. Na maioria dos episódios, Lois e Jimmy, amigos do Clark, se encontram em situações perigosas que só a intervenção oportuna do Superman pode resolver.

Por falar nele, aqui Superman é visto como uma presença semi-misteriosa que ainda é desconhecida por vários bandidos da cidade, podemos até dizer que ele é quase uma lenda urbana, porém eventualmente eles irão saber quem ele é. Os episódios da primeira temporada geralmente apresentavam histórias cheias de ação, sombrias, corajosas e muitas vezes violentas, muitos personagens morreram nesses episódios, com algumas mortes sendo mostradas em tela.

Cena de voo do Superman

Para “The Adventures of Superman” o orçamento cedido pela produtora foi relativamente baixo, com um episódio completo custando cerca de 15 mil dólares, sendo que o elenco recebia cerca de 200 dólares por episódio, em entrevistas o ator Jack Larson afirmou que ele e o elenco tiveram que, repetidas vezes ir até os produtores reivindicar um aumento de 50 dólares, caso contrário eles desistiriam da produção.

Até o final da série, George Reeves estava ganhando cerca de 2.500 dólares por episódio, no entanto o mesmo não acontecia com o restante do elenco. O elenco teve que assinar um contrato que garantia aos produtores o poder de exigir que eles aceitassem participar de uma nova temporada dentro de um prazo mínimo de trinta dias, porém essa mesma cláusula proibia os atores de assumir qualquer compromisso de longo prazo, como filmes, outras séries ou peças de teatro.

Entre os anos 1954 e 1958 a série passou a ser exibida em cores e com isso ela começou a assumir um tom mais alegre, mais próxima das HQs do Superman que eram publicadas na década de ’50, de gângster e assassinos os vilões dessa fase se tornaram mais caricatos, e a violência mais abrandada.

Superman enfrentando gângsteres.

Os únicos tiroteios que ocorriam eram voltados apenas ao Superman e, obviamente, as balas ricocheteavam nele. Aqui o Superman ficou menos propenso a se envolver em conflitos físicos com os vilões, nas ocasiões em que o Herói fazia uso da força física, ele simplesmente dominava os bandidos com golpes de karatê, ou dominava dois criminosos com as mãos, os nocauteando batendo suas cabeças juntas, na maioria das vezes, os vilões simplesmente fugiam de Superman.

Fora o Superman do Reeves, o personagem coadjuvante mais popular entre os telespectadores, era o jovem Jimmy Olsen, sob o qual recaiu o manto de alívio cômico da série, na grande maioria dos roteiros mostravam ele e a Lois sendo capturados, apenas para verem o Superman resgatando a dupla no último minuto.

Falando agora dos efeitos especiais, enquanto hoje em dia se considera simples o efeito de voar, o voo de Superman na série foi considerado um grande avanço para a época, o efeito em si envolvia três fases: A decolagem, o voo e a aterrissagem. Nos primeiros episódios foram utilizados cabos e fios para a decolagem do Superman, sendo que o Reeves as vezes era substituído por dublês.

No entanto ocorreu um acidente durante as gravações do 23ª episódio da 1ª temporada, lançado em 20 de fevereiro de 1953 e intitulado de “O Lobo Fantasma” (Ghost Wolf), quando Reeves quase teve um traumatismo, em decorrência do fato dos fios de apoio terem batido um no outro, causando a queda do ator no chão do estúdio, depois desse fato os cabos e fios foram descartados e para simular a decolagem foi utilizado um trampolim foi trazido, item que permaneceu com a série até seu final. O trampolim tinha força suficiente, juntamente com a manipulação sutil de câmera, para criar a ilusão de que o Superman estava realmente decolando.

O Homem de Aço salvando Perry White no episódio “The Perils of Superman”

Ainda falando sobre as cenas de voo, a técnica utilizada fazia com que Reeves ficasse deitado em um dispositivo, tipo uma maca, que apoiava seu tronco e pernas, o aparelho era operado com um contrapeso como uma haste de microfone. Nas duas primeiras temporadas, Reeves era ocasionalmente filmado em frente de imagens aéreas na tela de projeção, ou contra um fundo neutro.

Essa filmagem foi realizada em vários tipos de cenários, dependendo é claro das necessidades que o roteiro pedia, tipo nuvens, edifícios, oceano, ou florestas em montanha, em que veríamos o Superman voando, já nos episódios coloridos, uma técnica mais simples e mais barata passou a ser utilizada, onde para simular o voou do Reeves optou-se por deitar o ator em dispositivo em forma de espátula moldada para apoiar suas pernas. As técnicas utilizadas para as cenas de pousos envolviam Reeves pulando de uma escada ou segurando-se e balançando-se em uma barra horizontal, localizada fora a área de visão da de fora da câmara.

Os roteiros da sexta e última temporada conseguiram restabelecer um pouco da seriedade da série, chegando a usar, em vários momentos, elementos de ficção científica, como um robô movido a kryptonita, explosões atômicas e cubos de metal inexpugnáveis. Em “Os Perigos do Superman” (The Perils of Superman) 12ª episódio da 6ª temporada, lançado em 21 de abril de 1958, um dos três episódios dirigidos pelo George Reeves, em uma tentativa de injetar alguma vida nova à série.

A trama desse 12ª episódio trouxe grandes riscos, já que os principais personagens se viram em situações perigosas, apesar desses esforços do Reeves a série não conseguiu atingir o sucesso dos dois anos anteriores, fazendo com que “The Adventures of Superman” não conseguisse ser salva do cancelamento.

Matéria sobre o óbito do ator George Reeves

Com o cancelamento da série, ocorrida em 1958, o George, mesmo sendo adorado por todos como Clark Kent/Superman, não conseguiu se desvencilhar do papel, o que acabou dificultando suas buscas por novos papéis, que suprissem suas vontades artísticas, tal situação passou a consumi-lo todos os dias.

Ainda em 1958, o produtor Whitney Ellsworth trouxe uma ideia de uma série chamada “Superpup”, que chegou a ter um episódio piloto gravado que nunca exibido, essa nova produção colocava o mito do Superman em um mundo imaginário povoado por cães antropomórficos onde o repórter Bark Bent era secretamente o Superpup, a série se destinava única a capitalizar o sucesso da série-mãe, graças a Rao ela não passou do piloto.

A situação chegou ao limite máximo em junho de 1959, quando um tiro foi escutado no apartamento do George, em Los Angeles. Um disparo direto na cabeça que tirou a vida do ator, no entanto as circunstâncias de sua morte permanecem um mistério até hoje, oficialmente ela é tratada como suicídio, em decorrência ao fato dele não se livrar da imagem do Superman, porém ainda existem especulações de que ele pode ter sido assassinato. Mesmo com o falecimento repentino do George Reeves em 1959, os produtores ainda tinham planos de continuar com “The Adventures of Superman” com pelo menos mais duas temporadas, os quais começariam a ser transmitidos em 1960.

Bark Bent & seu alter-ego, o Superpup

Só que outra morte complicou ainda mais os planos, a do ator John Hamilton, ocorrida em 15 de outubro de 1958. John interpretava o Editor-Chefe Perry White, chegou-se a cogitar a contratação do ator Pierre Watkin para substituir Hamilton como um irmão do Perry White, assim como Noel Neill, Watkin já havia atuado em uma produção do Homem de Aço, interpretando o próprio Perry White nos dois seriados de cinema produzidos pela Columbia Pictures.

A palavra final sobre uma continuação aconteceu quando o ator Jack Larson retornou da Europa, assim que colocou os pés em território estadunidense os produtores já vieram com a ideia de que a série poderia continuar com o título “Superman’s Pal, Jimmy Olsen”, onde o foco central seria no Jimmy Olsen, que iria contracenar com um “Superman” que seria um composto de cenas de George Reeves e um dublê para ser filmado por trás, como era de se esperar Larson rejeitou a ideia e com isso a ideia de um retorno da série morreu de vez. Só voltaríamos a ter uma série do Superman na TV, cerca de 40 anos depois, com a estreia em 1993 da série “Lois & Clark: The New Adventures of Superman”, mas isso é uma história para o futuro.

 

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